Exercícios de Interpretação de texto
As questões abaixo não foram criadas por mim, Julie F. de Pádua Romão, foram retiradas do simulado ENEM 2009 do site http://www.curso-objetivo.br
Questão 01
Durante o tratamento com Cloridrato de
Benzidamina drágeas e solução oral (gotas), as pessoas mais sensíveis à
benzidamina podem apresentar, ainda que raramente, ansiedade, insônia,
agitação, convulsões e alterações visuais. Podem ocorrer também náusea e
sensação de queimação retroesternal. Informe imediatamente o seu médico caso
ocorram reações adversas desagradáveis com o uso do produto.
Assinale a alternativa correta.
a) “Reações adversas” é a designação
geral do conjunto dos efeitos produzidos pela ingestão do
medicamento.
b) Afirma-se que as pessoas que ingerem
cloridrato de benzidamina irão sofrer de “náusea e sensação
de queimação retroesternal”.
c) O remédio é indicado para pessoas
que sofrem de casos raros de “ansiedade, insônia, agitação, convulsões”.
d) O trecho “drágeas e solução oral”,
embora claramente compreensível, não está sintaticamente
relacionado com o resto da frase.
e) A última oração indica que o médico
deve ser imediatamente alertado caso o produto não seja agradável ao paciente.
RESPOSTA
A deficiência poderia ser corrigida,
por exemplo, se o trecho fosse redigido da seguinte maneira: “em drágeas
ou solução oral”.
Resposta: D
Questão 02
As últimas pessoas a ver Ossip
Mandelstam, o poeta russo que morre num campo de concentração na
época de Stálin, lembram-se dele diante de uma fogueira, na Sibéria,
em meio à desolação, rodeado por um grupo de prisioneiros a quem fala de
Virgílio*. Evoca a leitura de Virgílio, e essa é a última imagem do poeta.
A cena re força a ideia de que há alguma coisa que deve ser
preservada, alguma coisa que a leitura acumulou como
experiência social. Não se trataria de exibição de cultura, mas,
ao contrário, de cultura como resto, como ruína, como exemplo extremo do
desprovimento. (...) A leitura se opõe a um mundo hostil, como os restos
ou lembranças de outra vida.
(Ricardo Piglia. O último leitor. São
Paulo: Cia. das Letras, 2006.)
* Virgílio: poeta latino, viveu em Roma
no século I a.C. É um dos maiores clássicos da literatura ocidental.
No texto anterior, a leitura é
considerada como uma forma de
a) enriquecimento cultural.
b) enriquecimento pessoal.
c) solidariedade entre os homens.
d) resistência à opressão.
e) afirmação de superioridade.
RESPOSTA
Ao apresentar o grande poeta russo
Mandelstam evocando a leitura de Virgílio para seus companheiros no campo
de concentração estalinista, o autor afirma que “não se trataria de
exibição de cultura” e considera que “a leitura se opõe a um mundo
hostil”, pois, naquele caso, funcionava como oposição, como resistência à
opressão extrema que vitimava aqueles homens.
Resposta: D
Questão 03
E as palavras que denominam as menores
frações de tempo? “Momento” vem do latim momentum, “movimento”, e
refere-se ao balanço do pêndulo dos relógios. Tanto que a física chama
esse movimento pendular de “momento angular”. Cada ida ou vinda do pêndulo
é um “momento”. Ou seja, um “momento” não era, na sua origem, o mes
mo que um tempo infinitesimal, mas uma duração suficiente para que algo se
movesse de forma perceptível aos olhos. Já “instante” (do latim instans)
significa “insistente, que perdura”. Não é paradoxal que o instante
seja justamente o intervalo de tempo mais fugaz que existe?
(Aldo Bizzocchi. O instante do momento.
Revista Língua, n. 15, jan. 2007.)
De acordo com o texto, pode-se inferir
que as palavras
a) têm seu sentido subvertido na
Física.
b) podem mudar de significado no
decorrer do tempo.
c) são usadas de forma errada em
algumas ciências.
d) em latim eram mais precisas do que
em português.
e) não são eficientes na definição de
tempo.
RESPOSTA
Ao relatar que momento e instante
tiveram seus sentidos alterados na evolução do latim para o português
atual, o autor do texto dá a entender que a transformação do sentido das
palavras é um fenômeno natural na evolução da língua.
Resposta: B
QUESTÃO 4
A parte da senzala que era habitada
pelas negras solteiras, logo que o sol iluminou as grades das
janelas que davam para o vale, tornou-se movimentada. Mulheres de
chimangos quase brancos, os braços muito pretos de fora, falavam em voz
baixa e gesticulavam nervosamente. Algumas delas mais velhas diziam
palavras africanas na excitação em que estavam e não se compreendiam
porque eram de diversas nações e haviam sido escolhidas já de propósito
assim, para que não formassem grupos à parte, com a linguagem secreta
de uma só algaravia.
(Cornélio Pena, A Menina Morta)
Sobre o texto, leia os itens seguintes.
I. As escravas dispunham de um código
comum de palavras africanas.
II. Fora intencional o agrupamento de
escravas provenientes de nações diversas.
III. A falta de uma língua comum
dificultava as relações que mantinham com a administração.
Está correto o que se afirma em
a) I e II, somente.
b) I e III, somente.
c) II, somente.
d) II e III, somente.
e) todos os itens.
RESPOSTA
A afirmação contida no item II pode ser
confirmada no trecho: “eram de diversas nações e haviam sido
escolhidas já de propósito assim”. O que se afirma no item I é
contraditório em relação ao que se afirma em II, e o item III
está incorreto porque não se menciona no texto a dificuldade
no relacionamento entre as escravas e a administração.
Resposta: C
QUESTÃO 05
No texto anterior, algaravia
I. é o mesmo que um código não verbal
no caso de povos iletrados.
II. designa uma língua estranha aos membros
de outro grupo.
III. é a mistura de palavras africanas
com palavras da língua portuguesa.
Está correto o que se afirma em
a) I e II, somente. b) I e III,
somente.
c) II, somente. d) II e III, somente.
e) todos os itens.
RESPOSTA
No texto, algaravia diz respeito a uma
linguagem secreta pertencente a um grupo. Com essa linguagem secreta,
os membros desse grupo poderiam de fato comunicar-se, o que era
intencionalmente evitado pelos senhores.
Resposta: C
QUESTÃO 06
Uns, com os olhos postos no passado,
Veem o que não veem; outros, fitos
Os mesmos olhos no futuro, veem
O que não pode ver-se.
Por que tão longe ir pôr o que está
perto –
A segurança nossa? Este é o dia,
Esta é a hora, este o momento, isto
É quem somos, e é tudo.
Perene flui a interminável hora
Que nos confessa nulos. No mesmo hausto
sorvo, aspiração
Em que vivemos, morreremos. Colhe (de
ar)
O dia, porque és ele.
(Ricardo Reis)
Sobre os versos acima, não se
pode dizer:
a) Diante da fugacidade do tempo, a
exortação a aproveitar o presente propõe nossa identificação com ele.
b) Criticam tanto aqueles que se
prendem ao passado como aqueles que fixam seus olhos no futuro.
c) Exprimem consciência da brevidade da
vida e da inevitabilidade da morte, daí a valorização do momento
presente.
d) “Interminável hora” é metáfora de
morte, justificativa para o aproveitamento do momento presente.
e) “Colhe o dia” é a tradução de uma
das expressões mais célebres da poesia lírica: carpe diem, do
poeta latino Horácio.
RESPOSTA
“Interminável hora” é metáfora do tempo
que flui constantemente, mostrando-nos a nossa própria insignificância.
Resposta: D
QUESTÃO 7
A ficção é compensação e consolo pelas
muitas limitações e frustrações que fazem parte de todo destino individual e
fonte perpétua de insatisfação, pois nada mostra de forma tão clara o quão
minguada e in consistente é a vida real quanto tornar a ela, depois de haver vivido,
nem que seja de modo fugaz, a outra vida...
(Mário Vargas Llosa)
O termo ficção, no texto, só pode ser diretamente
associado a uma das seguintes expressões. Assinale-a.
a) “minguada e inconsistente”
b) “limitações e frustrações”
c) “destino individual”
d) “vida real”
e) “a outra vida”
RESPOSTA
No contexto, “a outra vida” refere-se à
vida representada na ficção, por oposição à “vida real”. As demais alternativas
contêm expressões que se associam não à ficção, mas à vida real.
Resposta: E
QUESTÃO 08
Na prática política, a palavra
negociação associa-se ora ao requisito clássico da democracia, que é a busca do
“acordo entre partes”, ora ao fundamento mercantilista dos “negócios”, ou mesmo
das “negociatas”. Vários políticos valem-se dessa duplicidade de significados:
sendo, de fato, espertos negociantes, justificam-se como hábeis negociadores.
Considere as seguintes afirmações sobre
o texto acima.
I. O tema explorado é o do duplo
sentido que a palavra negociação ganha no âmbito da prática política.
II. A tese defendida é a de que a
acepção mercantilista da palavra negociação pode ser maliciosamente encoberta
pela acepção democrática.
III. O tema é a prática da má política,
e a tese é a de que as palavras deixam de ter sentido por causa dessa prática.
Está correto o que se afirma em
a) II, apenas.
b) I e II, apenas.
c) I e III, apenas.
d) II e III, apenas.
e) I, II e III.
RESPOSTA
O item I está correto, pois o duplo
sentido da palavra negociação confirma-se no texto, por referir-se tanto a “requisito
clássico da democracia” quanto a “fundamento mercantilista”. O item II também
está correto, pois a palavra negociação, conforme o texto, é empregada por
políticos de forma ardilosa, com a acepção “democrática” disfarçando a acepção
“mercantilista”. O item III está errado, pois o texto se refere à exploração da
duplicidade de sentidos de uma palavra, não à perda de sentido.
Resposta: B
QUESTÃO 9
A vida não me chegava pelos jornais nem
pelos livros
Vinha da boca do povo na língua errada
do povo
Língua certa do povo
Porque ele é que fala gostoso o
português do Brasil
Ao passo que nós
O que fazemos
É macaquear
A sintaxe lusíada
(Manuel Bandeira)
Assinale a afirmação que descreve
adequadamente a atitude presente nos versos de Bandeira.
a) “A língua é a nacionalidade do
pensamento como a pátria é a nacionalidade do povo. Da mesma forma que
instituições justas e racionais revelam um povo grande e livre, uma língua
pura, nobre e rica, anuncia a raça inteligente e ilustrada.” (José de Alencar)
b) “O Movimento de 1922 não nos deu –
nem nos podia dar – uma ‘língua brasileira’, ele incitou nossos escritores a
concederem primazia absoluta aos temas essencialmente brasileiros [...] e a
preferirem sempre palavras e construções vivas do português do Brasil a outras,
mortas e frias, armazenadas nos dicionários e nos compêndios gramaticais.”
(Celso Cunha)
c) “Língua é vida. Faz parte de toda a
gama de nossos comportamentos sociais, como comer, morar, vestir-se etc. Não é
uma realidade à parte, algo que se esquece tão logo se saia da sala de aula,
das provas, dos
concursos.” (Celso Pedro Luft)
d) “A língua portuguesa é um verdadeiro
desafio para quem escreve. Sobretudo para quem escreve tirando das coisas e das
pessoas a primeira capa do superficialismo. Às vezes ela reage diante de um pensamento
mais complicado. Às vezes se assusta com o imprevisível de uma frase.” (Clarice
Lispector)
e) “A influência popular tem um limite;
e o escritor não está obrigado a receber e dar curso a tudo o que o abu so, o capricho
e a moda inventam e fazem correr. Pelo contrário, ele exerce também uma grande
parte da influência a este respeito, depurando a linguagem do
povo e aperfeiçoando-lhe a razão.”
(Machado de Assis)
RESPOSTA
Os versos de Manuel Bandeira valorizam
o uso coloquial do português do Brasil, e é sobre essa tendência modernista que
fala Celso Cunha na alternativa b.
Resposta: B
QUESTÃO 10
Na oração católica Salve Rainha, os
devotos se dirigem à Virgem Maria em termos que exprimem uma concepção cristã
do mundo e da vida humana: “A vós suspiramos, gemendo e chorando, neste vale de
lágrimas.” Entre os trechos poéticos seguintes, de autores românticos, aponte aquele
que, em sua visão da existência, mais se aproxima daquela concepção cristã.
a) Não chores, meu filho;
Não chores, que a vida
É luta renhida:
Viver é lutar.
A vida é combate
Que os fracos abate,
Que os fortes, os bravos
Só pode exaltar. (Gonçalves Dias)
b) Eu deixo a vida como deixa o tédio
Do deserto o poento caminheiro.
(Álvares de Azevedo)
c) A vida é o dia de hoje,
A vida é ai que mal soa,
A vida é sombra que foge,
A vida é nuvem que voa;
A vida é sonho tão leve
Que se desfaz como a neve
E como o fumo se esvai:
A vida dura um momento,
Mais leve que o pensamento,
A vida leva-a o vento,
A vida é folha que cai! (João de Deus)
d) Quem passou pela vida em brancas
nuvens
E em plácido repouso adormeceu,
Quem não sentiu o frio da desgraça,
Quem passou pela vida e não sofreu,
Foi espectro de homem, não foi homem,
Só passou pela vida, não viveu.
(Francisco Otaviano)
e) Morrer... quando este mundo é um
paraíso,
E a alma um cisne de douradas plumas:
Não! o seio da amante é um lago
virgem...
Quero boiar à tona das espumas.
Vem! formosa mulher – camélia pálida
Que banharam de pranto as alvoradas.
(Castro Alves)
RESPOSTA
No trecho de Salve Rainha, este mundo é
visto como um “vale de lágrimas”; a vida, portanto, é concebida como sofrimento.
A mesma concepção se exprime nos versos de Francisco Otaviano: viver = sofrer,
não sofrer = não viver. Nos outros fragmentos transcritos, a vida é vista como
luta (a), tédio (b) e inconsistência (c) e o mundo é concebido como um
“paraíso” de beleza feminina e prazer erótico (e).
Resposta: D
QUESTÃO 11
Texto I
Em entrevista, a modelo Luma de
Oliveira, comentando o prazer que tem em se dedicar à sua casa e à família,
disse: “Sou a Amélia do ano 2000.”
Texto II
Ai, meu Deus, que saudade da Amélia
Aquilo, sim, é que era mulher.
Às vezes, passava fome ao meu lado
E achava bonito não ter o que comer
E quando me via contrariado
Dizia: meu filho, que se há de fazer?
Amélia não tinha a menor vaidade
Amélia é que era mulher de verdade.
(Canção de Ataulfo Alves e Mário Lago,
Ai, que Saudade da Amélia)
Observe as seguintes afirmações sobre
os textos apresentados.
I. Sem o conhecimento da personagem da
música popular, em nada fica prejudicado o entendimento da frase dita pela
modelo.
II. Na canção, o “é que” destacado
denota ideia de exclusão: nenhuma mulher é “mulher de verdade”, só Amélia.
III. Se a modelo, contrariamente ao que
disse, estivesse se referindo ao peso das atividades cotidianas da mulher, a
referência a Amélia adquiriria sentido pejorativo.
Está correto o que se afirma apenas em
a) I.
b) II.
c) III.
d) I e II.
e) II e III.
RESPOSTA
O item I está incorreto porque a frase
da modelo supõe referência à personagem celebrizada na canção, uma mulher submissa
e dedicada ao lar. No item II, a expressão expletiva “é que” denota exclusão. O
item III está correto, pois, se se tratasse de reclamação de uma mulher a respeito
do peso dos trabalhos domésticos, a referência a Amélia ganharia sentido
pejorativo.
Resposta: E
QUESTÃO 12
Vejo livros e artigos sobre o que é
escrever bem. Nada contra; mas no máximo o que se passa são dicas, observações
técnicas. Mais útil é mostrar o que é escrever mal. Pego o novo livro de Rubem
Fonseca, Mandrake – a Bíblia e a Bengala (Companhia das Letras), e nas
primeiras 20 páginas já me sinto dentro de um filme policial de terceira
classe, ou de um seriado de TV, com o mesmo destrato à língua: “Para um
advogado às vezes é melhor o cliente começar pelo fim, eu disse, e ela lançou-me
um olhar arguto, como se procurasse algum significado oculto por trás das
minhas palavras.” Primeiro: o adequado seria “ela me lançou”, porque o pronome
pessoal atrai a preposição, além de ser a forma coloquial no Brasil. Segundo:
se ela procurava significado por trás das palavras, era certamente porque
estava oculto. Terceiro, mais importante: um olhar em busca de um significado não
é arguto, mas inquiridor, curioso ou, melhor ainda, investigativo. Como dizia
Monteiro Lobato, o adjetivo certo para um substantivo é como a porca no
parafuso.
(Daniel Piza)
Considere as seguintes proposições:
I. Em “o adequado seria ʻela me lançouʼ
”, o autor refere-se a um “erro” que não ocorre, pois o pronome pes soal (ela)
não “atrai” o pronome oblíquo átono (me, que o autor do texto, em outro
equívoco, considerou “preposição”).
II. Em “o adjetivo certo para um
substantivo é como a porca no parafuso”, como expressa a mesma ideia de
conformidade que em “como se procurasse algum significado oculto”.
III. Para o autor, a oração “como se
procurasse algum significado oculto por trás das minhas palavras” tem o defeito
da ambiguidade.
Está correto o que se afirma em
a) I, apenas.
b) I e II, apenas.
c) II, apenas.
d) II e III, apenas.
e) todas as proposições.
RESPOSTA
Em II, como não expressa conformidade,
mas comparação; em III, a construção, para o autor, nnão é ambígua, mas pleonástica,
redundante.
Resposta: A
QUESTÃO 13
Considere as seguintes afirmações sobre
o texto anterior
I. O autor aponta três problemas no
texto, sendo o primeiro referente a normas de sintaxe e os dois outros, à
qualidade da redação.
II. O segundo problema apontado tem
relação com o sentido, não com a forma do texto, pois o defeito consistiria em
redundância.
III. O terceiro problema apontado diz
respeito à propriedade e precisão no emprego das palavras.
Está correto o que se afirma em
a) I, apenas.
b) I e II, apenas.
c) II, apenas.
d) II e III, apenas.
e) todas as proposições.
RESPOSTA
O primeiro defeito apontado é um falso
erro de sintaxe de colocação; o segundo e o terceiro envolvem problemas semânticos,
isto é, referentes ao sentido do texto: redundância e imprecisão.
Resposta: E
QUESTÃO 14
Cuidado com a ideia falsa amplamente
disseminada de que a corrupção é o óleo que lubrifica a engrenagem da economia
e dos negócios públicos. Não é. A corrupção é um ácido que corrói não apenas a
engrenagem da vida governamental, mas também os valores éticos, morais e até os
sonhos de um povo. (Denise Frossard)
Considere as seguintes proposições
sobre o texto:
I. A palavra disseminada significa
“adulterada”.
II. A palavra corrupção é associada a
duas metáforas: “óleo que lubrifica” e “ácido que corrói”.
III. A locução conjuntiva não apenas...
mas também exprime adição enfática e promove o paralelismo sintático entre as
orações.
IV. A palavra até, em “os valores
éticos, morais e até os sonhos de um povo”, poderia ser substituída por inclusive
ou mesmo, sem alteração do sentido do trecho.
Estão corretas as afirmações
a) I e II, apenas.
b) II e III, apenas.
c) I, II e III, apenas.
d) II, III e IV, apenas.
e) I, II, III e IV.
RESPOSTA
O sentido de disseminar é “espalhar”.
Resposta: D
QUESTÃO 15
A evolução da sociedade nas últimas
décadas tem sido tão vertiginosa em todos os setores, que se torna [...] um
desafio acompanhá-la [...]. Mas não acompanhar esse ritmo significa ficar de
fora, desconhecer as informações mais recentes. Isso provoca uma corrida
ansiosa em direção a tudo o que é novo, tudo que evolui, tudo que muda. [...] A
língua, espelho da cultura, reflete essa busca frenética de novidade, evoluindo
rapidamente, introduzindo novos termos, logo aceitos. [...] São eles os
neologismos, termo que significa nova palavra [...] Estão os neologismos
ligados a todas as inovações nos diversos ramos de atividade humana, seja na
arte, técnica, ciência, política ou economia. [...]
Surgem ainda palavras como resultado de
uma necessidade de expressão pessoal: são os neologismos cria dos pelos poetas,
escritores, cronistas e humoristas. [...] À medida que a cultura se desenvolve,
o vocabulário evolui, incorpora novos termos e joga fora outros correspondentes
[...]. Os vocábulos que os designavam perdem sua razão de ser, se arcaízam.
Arcaísmo vem do grego arkaikós, fora de uso, arcaico.
(Nelly Carvalho, O que é o Neologismo
Considere as seguintes afirmações:
I. Os neologismos nem sempre estão
relacionados a modificações do mundo exterior.
II. O interesse pelas inovações motiva
a rápida compreensão dos neologismos.
III. As principais fontes de origem de
novas palavras, na atualidade, são a ciência e a tecnologia.
Está correto apenas o que se afirma em
a) I.
b) II.
c) III.
d) I e II.
e) II e III.
RESPOSTA
A afirmação II está errada porque o
texto apenas menciona a “aceitação” do neologismo, e não a sua “compreensão”. O
erro da afirmação III está no uso do termo principais, já que o texto não
destaca a ciência e a tecnologia como fontes principais de neologismos.
Resposta: A
QUESTÃO 16
De acordo com o texto anterior, pode-se
concluir que
a) os neologismos criados pelos
literatos, por não atenderem às necessidades da vida prática, deixam de ser incorporados
ao vocabulário dos demais falantes.
b) os arcaísmos decorrem do
desinteresse em utilizar palavras eruditas que apresentem correspondentes na
linguagem informal.
c) o ritmo acelerado das mudanças causa
ansiedade naqueles que se veem incapazes de assimilar as inovações.
d) o dinamismo cultural é responsável
pelo uso de novas palavras e, ao mesmo tempo, pelo abandono de outras.
e) as transformações sofridas pela
linguagem sempre refletem os avanços tecnológicos.
RESPOSTA
A resposta a esse teste encontra-se no
último parágrafo do texto: “À medida que a cultura se desenvolve, o vocabulário
evolui, incorpora novos termos e joga fora outros cor respondentes [...].”
Resposta: D
QUESTÃO 17
Com base no texto anterior, só não é
possível associar a neologismo a palavra
a) criação.
b) surgimento.
c) incompreensão.
d) mudança.
e) incorporação.
RESPOSTA
Nada se fala no texto a respeito da
compreensão ou incompreensão dos neologismos; afirma-se apenas que eles são “logo
aceitos” – o que não quer dizer que sejam compreendidos nem, muito menos,
incompreendidos.
Resposta: C
QUESTÃO 18
Há uma diferença fundamental entre as
[torcidas] organizadas brasileiras e os hooligans
ingleses. Ninguém na Inglaterra assume que é hooligan. Os caras são anônimos. Muitas vezes, a polícia se
surpreende ao localizar o sujeito que barbarizou num estádio e descobrir que
ele é um calmo chefe de família. Apesar de não serem pobres e carentes como os
brasileiros, os hooligans também são os pobres coitados da Inglaterra. Muitos
pesquisadores tentam descobrir o que leva os hooligans a serem tão violentos. Às vezes, me parece uma vontade
estúpida de buscar fortes emoções regada a muito álcool. Uma caneca de cerveja
europeia tem quatro vezes mais álcool que um chope brasileiro. E os ingleses
bebem muito. Então, os caras enchem a cara e
partem para a violência. Agora, no Brasil, a coisa é espantosa.
Os chefes de torcida organizada têm cartão de visitas, sede, assessor de
imprensa. São entrevistados no rádio e na tevê. Expulsaram os torcedores das grandes
partidas e viraram personalidades. As torcidas
organizadas explodiram no Brasil a
partir do final dos anos 60. Acho que isso tem alguma relação com a ditadura
militar. De qualquer modo, penso que as torcidas seriam menos violentas se os
dirigentes brasileiros não errassem tanto e não roubassem o clube dessa
maneira.
(Alex Bellos)
O termo destacado no texto indica
a) ênfase.
b) tempo.
c) oposição.
d) condição.
e) concessão.
RESPOSTA
A palavra agora está unindo dois termos
opostos de uma comparação: os hooligans,
que operam na clandestinidade, e as torcidas organizadas brasileiras, que se
mostram às claras em nosso meio social.
Resposta: C
QUESTÃO 19
De acordo com o texto anterior, só não
se pode afirmar que
a) os hooligans, como os integrantes das torcidas organizadas, são
vítimas de injustiças sociais.
b) os hooligans têm identidade clandestina, ao contrário das torcidas
organizadas.
c) um hooligan pode, fora do estádio, ser um cidadão perfeitamente
adaptado à sociedade.
d) a violência dos hooligans parece associada ao consumo excessivo de álcool.
e) fatores socioeconômicos podem ter
relação com as ações das torcidas organizadas brasileiras.
RESPOSTA
Nada no texto permite a afirmação feita
na alternativa a, como comprova o trecho “Apesar de não serem pobres e carentes
como os brasileiros”.
Resposta: A
QUESTÃO 20 - TEXTO ANTERIOR
Por se tratar de um texto jornalístico,
sua linguagem aproxima-se, em alguns momentos, do padrão coloquial. Isso só não
ocorre em:
a) “Os caras são anônimos.”
b) “Agora, no Brasil, a coisa é
espantosa.”
c) “Então, os caras enchem a cara...”
d) “Muitas vezes, a polícia se
surpreende ao localizar o sujeito que barbarizou num estádio...”
e) “Os chefes de torcida organizada têm
cartão de visitas, sede, assessor de imprensa.”
RESPOSTA
Em a, o coloquialismo está no emprego
da expressão “os caras”; em b, no uso de “agora” em sentido adversativo e de
“coisa” em sentido indefinido de “situação”, “rea li dade”; em c, no emprego de
“Então”, “os caras” e “en chem a cara”; em d, na utilização de “barbarizar”, no
sentido de “cometer violência”. Não há marcas de coloquialismo na
frase da alternativa e.
Resposta: E
QUESTÃO 21 - TEXTO ANTERIOR
Em “os caras enchem a cara”, a
linguagem está sendo usada em seu sentido conotativo, figurado, assim como em:
a) “Os chefes de torcida organizada têm
cartão de visita,...”
b) “Os caras são anônimos.”
c) “Agora, no Brasil, a coisa é
espantosa.”
d) “Às vezes, me parece uma vontade
estúpida de buscar fortes emoções regada a muito álcool.”
e) “E os ingleses bebem muito.”
A única alternativa que apresenta frase
em que a linguagem está sendo usada no sentido figurado é a d, pois
“vontade...regada a muito álcool” é expressão que não deve ser entendida em seu
sentido literal.
Resposta: D
QUESTÃO 22
[...]
A criança, na visão de Pestalozzi, se
desenvolve de dentro para fora — ideia oposta à concepção de que a função do
ensino é preenchê-la de informação. Para o pensador suíço, um dos cuidados
principais do professor deveria ser respeitar os estágios de desenvolvimento pelos
quais a criança passa. Dar atenção à sua evolução, às suas aptidões e
necessidades, de acordo com as diferentes idades, era, para Pestalozzi, parte
de uma missão maior do educador, a de saber ler e imitar a natureza — em que o
método pedagógico deveria se inspirar. [...] Tanto a defesa de uma volta à
natureza quanto a construção de novos conceitos de criança, família e instrução
a que Pestalozzi se dedicou devem muito a sua leitura do filósofo franco-suíço
Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), nome central do pensamento iluminista. Ambos
consideravam o ser humano de seu tempo excessivamente cerceado por convenções
sociais e influências do meio, distanciado de sua índole original — que seria
essencialmente boa para Rousseau e potencialmente fértil, mas egoísta e
submissa aos sentidos, para Pestalozzi. [...] O pensador suíço costumava
comparar o ofício do professor ao do jardineiro, que devia providenciar as
melhores condições externas para que as plantas seguissem seu desenvolvimento natural.
Ele gostava de lembrar que a semente traz em si o “projeto” da árvore toda. Desse
modo, o aprendizado seria, em grande parte, conduzido pelo próprio aluno, com
base na experimentação prática e na vivência intelectual, sensorial e emocional
do conhecimento. É a ideia do “aprender fazendo”, amplamente incorporada pela
maioria das escolas pedagógicas posteriores a Pestalozzi. O método deveria
partir do conhecimento para o novo e do concreto para o abstrato, com ênfase na
ação e na percepção dos objetos, mais do que nas palavras. O que importava não era
tanto o conteúdo, mas o desenvolvimento das habilidades e dos valores.
(Márcio Ferrari, Revista Escola,
abril/2004)
O autor considera duas possibilidades
opostas para o desenvolvimento infantil, que se evidenciam no confronto das
expressões:
a) “...respeitar os estágios de
desenvolvimento...” / “Dar atenção à sua evolução,...”
b) “...o aprendizado [...] conduzido
pelo próprio aluno,...” / “...aprender fazendo,...”
c) “...providenciar as melhores condições
externas...” / “...seguissem seu desenvolvimento natural.”
d) “...deveria partir do conhecimento
para o novo...” / “...do concreto para o abstrato.”
e) “...se desenvolve de dentro para
fora...” / “...preenchê-la de informação.”
RESPOSTA
Na concepção de Pestalozzi, educador
suíço do século XVIII, o desenvolvimento infantil fundamenta-se na vivência intuitiva,
ou seja, parte “de dentro para fora”, e não o oposto, de “fora para dentro”,
conforme a ideia de que o ensino é apenas transmissão de informações: “A
criança, na visão de Pestalozzi, se desenvolve de dentro para fora — ideia
oposta à concepção de que a função do ensino é preenchê-la de informação.”
Resposta: E
QUESTÃO 23 - TEXTO ANTERIOR
Considere as seguintes afirmações:
I. A criança desenvolve-se por estágios
sucessivos e a gradação natural de seu progresso deve ser respeitada pelo
mestre.
II. Na educação, a percepção sensorial
é fundamental, portanto os sentidos devem estar em contato direto com os
objetos.
III. O aprendizado depende inteiramente
do professor, comparável a um jardineiro, ao providenciar as condições
propícias para determinar o crescimento do aluno.
Está correto apenas o que se afirma em
a) I.
b) II.
c) III.
d) I e II.
e) I e III.
RESPOSTA
A afirmação III está errada porque o
aprendizado não depende inteiramente do professor, tampouco é ele quem determina
o crescimento do aluno. O jardineiro apenas prepara o ambiente favorável, mas
“o aprendizado seria, em grande parte, conduzido pelo próprio aluno, com base na
experimentação prática e na vivência intelectual, sensorial e emocional do
conhecimento”.
Resposta: D
QUESTÃO 24 - TEXTO ANTERIOR
Considere as ideias de Rousseau e de
Pestalozzi referidas no texto.
a) Ambos têm pensamentos opostos quanto
ao ser humano de seu tempo e as convenções sociais.
b) Os dois pensadores consideravam o
homem, na sociedade de seu tempo, próximo de sua índole original.
c) Para Rousseau, a índole original do
indivíduo seria essencialmente egoísta e submissa aos sentidos.
d) Pestalozzi foi influenciado por
Rousseau na construção de novos conceitos sobre instrução.
e) Um e outro concordam que as
propensões naturais do ser humano estão livres das convenções sociais e das influências
do meio.
RESPOSTA
A confirmação da alternativa d
encontra-se no seguinte trecho: “Tanto a defesa de uma volta à natureza quanto
a construção de novos conceitos de criança, família e instrução a que
Pestalozzi se dedicou devem muito a sua leitura do filósofo franco-suíço
Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), nome central do pensamento iluminista.”
Resposta: D
QUESTÃO 25
Os textos para as questões de 25 a 27
são fragmentos de entrevistas concedidas pelo escritor José J. Veiga para a coleção
Para Gostar de Ler e para a Folha de S.Paulo, respectivamente.
— Como começou a escrever?
— Foi um processo demorado, que
amadureceu devagar. Quando resolvi experimentar escrever, não consegui da
primeira vez. Escrevi uma história, não gostei, e desanimei. Eu estava
descobrindo que ler é muito mais fácil do que escrever. Mas quando a gente joga
a toalha, entrega os pontos num assunto que sente que é capaz de fazer, fica
infeliz, e acaba voltando à luta. Voltei a tentar, apanhei, caí, levantei – até
que um dia escrevi uma história que, quando li de cabeça fria, achei que não estava
ruim; com uns consertos aqui e ali, ela ficaria apresentável. Consertei, e gostei
do resultado. Animado, escrevi outras e outras histórias, nessa batalha per
manente. Mas é uma batalha curiosa: as derrotas que a gente sofre nela não são
derrotas, são lições para o futuro.
(Para Gostar de Ler)
—O senhor é muito conhecido por
reescrever incessantemente seus textos. Por que o senhor reescreve?
—É por conta de uma grande
insatisfação. Você imagina as coisas, até visualiza, mas, quando quer pôr
aquilo no papel, tem que usar a linguagem. Aí você descobre que a linguagem é
tosca. Não acompanha o que você quer fazer. Então você fica trabalhando,
trabalhando, para chegar o mais próximo possível.
— Por isso a linguagem do senhor é tão
seca, tão substantiva?
—É. Eu me vigio muito para não fazer
aquilo que em linguagem popular se diz “encher linguiça”. Eu desbasto o texto.
Tiro o bagaço para deixar apenas o que tem peso,
a essência.
(Folha de S.Paulo)
Qual o motivo da insatisfação do
escritor José J. Veiga no ato de escrever?
a) A expressão de suas ideias requer um
árduo trabalho de vigilância para evitar o excesso de palavras (“encher
linguiça”).
b) Sua linguagem é, predominantemente,
substantiva, seca e dificulta pôr no papel aquilo que ele imaginou.
c) A linguagem parece-lhe insuficiente
para transmitir tudo aquilo que se passa em sua mente.
d) Falta-lhe habilidade natural, um
dom, para exprimir suas ideias com precisão.
e) Sua linguagem é tosca, falta-lhe o
conhecimento do padrão culto para comunicar exatamente o que pensa.
RESPOSTA
O trecho do texto que justifica a
resposta é: “Aí você descobre que a linguagem é tosca. Não acompanha o que você
quer fazer.”
Resposta: C
QUESTÃO 26 - TEXTO ANTERIOR
Qual dos seguintes fragmentos se
distancia da ideia transmitida nos depoimentos de José J. Veiga?
a) Lutar com palavras
é a luta mais vã.
Entanto lutamos
mal rompe a manhã.
(Carlos Drummond de Andrade)
b) (...) E de repente me emocionei: na
imagem do lutador de boxe vi a imagem do escritor no corpo a corpo com a
palavra.
(Lygia Fagundes Telles)
c) Antonio Bolívar Goyanes (...) teve a
bondade de rever comigo os originais, numa caçada milimétrica de contrassensos,
repetições, inconsequências, erros e erratas, e num escrutínio encarniçado da
linguagem e da ortografia, até esgotar sete versões.
(Gabriel García Márquez)
d) (...) outro dia o céu ameaçava chuva
e eu ia a caminho de casa. (...) Atirei-me para casa com o andar mais próximo
do correr que pude achar (...) E neste estado de espírito encontro-me a compor
um soneto – acabei-o uns passos antes de chegar ao portão (...) E o soneto é
não só calmo, mas também mais ligado e conexo que algumas coisas que eu
tenho escrito.
(Fernando Pessoa)
e) Para mim, o ato de escrever é muito
difícil e penoso, tenho sempre de corrigir e reescrever várias vezes. Basta
dizer, como exemplo, que escrevi 1.100 páginas datilografadas para fazer um
romance no qual
aproveitei pouco mais de 300.
(Fernando Sabino)
RESPOSTA
O texto de Fernando Pessoa,
diferentemente dos outros, não se refere a dificuldades na redação do texto,
mas, bem ao contrário, à facilidade com que pôde compor um soneto, mesmo em
circunstâncias tão anormais ou incômodas.
Resposta: D
QUESTÃO 27 - TEXTO ANTERIOR
A leitura dos depoimentos de José J.
Veiga só não permite concluir que
a) o erro na prática da produção
escrita prejudica o aprimoramento do escritor.
b) escrever é uma habilidade que pode
ser desenvolvida por meio da prática insistente de organização e reorganização
de textos.
c) o trabalho de escrever é exigente,
cansativo e muitas vezes insatisfatório, frustrante.
d) a linguagem é neutra e cabe ao
escritor trabalhar na escolha de palavras que têm maior capacidade de significação
dentro de um texto.
e) a leitura do próprio texto permite,
àquele que redige, a identificação de pontos falhos.
O que se afirma na alternativa a não
corresponde ao conteúdo de nenhum dos dois textos apresentados, que se referem
à dificuldade de chegar a um resultado satisfatório na elaboração de um texto,
não a “erro” que prejudique “o aprimoramento do escritor”.
Resposta: A
QUESTÃO 28
Textos para as questões de 28 a 30.
Texto I
BEETHOVEN
Beethoven não foi homem de inspiração
instantânea. Seus cadernos de notas, em que podemos acompanhar a gênese de
muitas obras suas, demonstram que raramente aproveitou uma ideia musical assim
como lhe ocorrera. Os temas passam por um lento processo de elaboração até se
prestarem ao “desenvolvimento”, na sonata-forma, da qual Beethoven é o maior
mestre. Sua própria evolução também foi das mais vagarosas. Se tivesse morrido,
como Schubert, com 31 anos de idade, seu nome não seria hoje lembrado por
ninguém. Com 35 anos, idade em que Mozart encerrou sua produção abundante,
Beethoven ainda não tinha criado a maior parte de suas obras-primas. O que
escreveu em Bonn tem apenas interesse histórico. Ele mesmo deu à primeira obra publicada
em Viena — e que não é, de longe, a primeira que escrevera — o número “opus 1”.
No ano da sua morte chegou a opus 135: produção muito menos abundante que a de
Bach, Händel, Haydn, Mozart, Schubert.
(Otto Maria Carpeaux, Uma Nova História
da Música)
Texto II
A ópera Fidélio, que não obteve sucesso
na estreia, foi revista duas vezes por Beethoven e seus libretistas, tendo
êxito apenas em sua versão final, de 1814. Nela, a ênfase maior está na força
moral do enredo, que trata não apenas de liberdade, justiça e heroísmo, mas
também do amor matrimonial. No personagem da heroína, Leonore, pode-se ver a
imagem idealizada que Beethoven tinha do sexo feminino.
(Dicionário Grove de Música)
Assinale a alternativa correta, de
acordo com os textos.
a) A ópera Fidélio é um exemplo do
árduo trabalho que Beethoven realizava no processo de criação de suas obras.
b) Como era um músico de pouca
inspiração, Beethoven produziu poucas obras.
c) Beethoven obteve êxito apenas nas
peças em que se curvou ao gosto do público.
d) Ao que parece, Viena era uma cidade
que propiciava mais inspiração a Beethoven do que sua cidade natal, Bonn.
e) As aspas na expressão “opus 1”
emprestam a ela um tom irônico, já que o autor do texto não vê qualidade nas
primeiras obras de Beethoven.
RESPOSTA
A ópera Fidélio teve sua versão
definitiva depois de várias revisões (texto II), o que comprova que Beethoven
trabalhava arduamente em cima de suas obras até dar-se por satisfeito com elas
(texto I).
Resposta: A
QUESTÃO 29
De acordo com o texto, podemos inferir:
a) A ópera Fidélio, nas suas versões
iniciais, não obteve êxito junto ao público, porque vulgarizava o amor matrimonial
e a imagem da mulher.
b) Se compararmos Beethoven a Schubert,
concluiremos que este se apresentou mais fecundo no início da carreira de
compositor do que aquele.
c) Os compositores barrocos (como Bach
e Händel) e os compositores clássicos (como Haydn e Mozart) são mais criativos
que os compositores românticos (como Beethoven).
d) As obras que sofrem um lento
processo de elaboração apresentam normalmente uma qualidade mais elevada do que
aquelas que surgem de uma inspiração momentânea.
e) Beethoven criou pouco, porque
desenvolvia suas composições dentro dos padrões da sonata-forma, procedimento
que tornava o processo criativo mais trabalhoso.
RESPOSTA
O texto afirma que, se tivesse morrido
com a idade de Schubert (31 anos), Beethoven não seria hoje lembrado por ninguém;
daí a inferência de que Schubert foi mais “fecundo” (capaz de muitos e bons
resultados) no início de sua carreira do que Beethoven.
Resposta: B
QUESTÃO 30
Assinale a alternativa na qual o texto
ilustra o processo de criação de Beethoven.
a) Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com
livro de ponto
[expediente protocolo e manifestações
de apreço
[ao senhor diretor
Estou farto do lirismo que para e vai
averiguar no
[dicionário o cunho vernáculo de um
vocábulo
b) Ó santa inspiração! Fada noturna,
Por que a fronte não beijas do poeta?
Por que não lhe descansas nos cabelos
A coroa dos sonhos, e rebentam-lhe
Entre as lívidas mãos uma por uma
As cordas do alaúde a vibrá-las?
c) Longe do estéril turbilhão da rua,
Beneditino, escreve! No aconchego
Do claustro, na paciência e no sossego,
Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e
sua!
d) Frouxo o verso talvez, pálida a rima
Por estes meus delírios cambeteia,
Porém odeio o pó que deixa a lima
E o tedioso emendar que gela a veia!
e) Quando sinto a impulsão lírica
escrevo sem pensar tudo o que meu inconsciente me grita.
RESPOSTA
A estrofe de um conhecido soneto
do poeta parnasiano Olavo Bilac apresenta o processo de criação artística como um
trabalho árduo. O poeta, para criar, deve isolar-se do “estéril turbilhão da
rua” e trabalhar, teimar, limar, sofrer e suar.
Resposta: C
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