Estratégias de escrita de autores famosos

TEXTO 01

DICAS DE DIVERSOS AUTORES PARA SE ESCREVER BEM
 Bernardo Pina


[...]

George Orwell

Esse é o autor de grandes obras tal como “1984” (livro que inspirou o conceito “Big Brother”) e “A revolução dos bichos”. No ano de 1946, Orwell escreveu um texto dando sugestões para melhorar o uso da língua nas publicações da época. Mesmo sendo “velhas”, as dicas são perfeitamente aplicáveis nos textos produzidos até hoje.

Se você escreve com freqüência para algum lugar, vale a pena ler as dicas abaixo.


  • Nunca use chavões, metáforas ou outras figuras de linguagem que você esteja acostumado a ver na imprensa.
  • Nunca use uma palavra longa onde uma curta é suficiente.
  • Se for possível cortar uma palavra, sempre a corte.
  • Nunca use a voz passiva se puder usar a ativa.
  • Nunca use uma frase estrangeira, um termo científico ou um jargão se você consegue pensar em um equivalente comum.
  • Quebre qualquer destas regras antes de escrever alguma barbaridade.

Ernest Hemingway

Ganhador do prêmio Pulitzer de 1953 com a obra “The Old Man and the Sea” e posteriormente ganhador do prêmio Nobel de literatura em 1954, Ernest Hemingway é uma das grandes figuras literárias da história.

Essa importante figura nos deixou importantes dicas para escrevermos melhor. Veja abaixo:


  • Use frases curtas
  • Hemingway era famoso pelo seu estilo minimalista que dispensava floreios e ia direto ao ponto. Um grande exemplo disso pode ser visto quando ele foi desafiado a contar uma história com apenas seis palavras. O resultado foi: “For sale: baby shoes, never used” (traduzindo… Para venda: sapato de bebês, nunca usados). Isso é genialidade…
  • Inicie com um parágrafo curto
  • Escreva com vigor
  • Seja vigoroso quando transmitir as suas ideias. Nenhum leitor continua lendo ou lembra um texto que não o convenceu das suas idéias.
  • Escreva positivamente
  • Hemingway não era uma pessoa muito positiva. Então o que significa ser positivo? Bem, você conhece a história do copo cheio e do copo vazio?  Se sim, a ideia é parecida: passe a descrever o que as coisas são, e não o que elas não são.
  • Saiba separar o joio do trigo
  • Hemingway disse: “Eu escrevo uma obra de arte para cada 90 textos horríveis”. Saiba reconhecer o que é bom e o que é ruim, descartando o que não for do agrado (ou refazendo).

Stephen King

Conhecido pelos vários best-sellers de horror, autor de mais de 200 obras e ganhador do prêmio National Foundation dos EUA, Stephen King é amplamente conhecido no meio literário.

Baseando-se na auto-biografia desse famoso autor, o blog Positivity publicou um artigo com 7 dicas para escrever melhor.


  • Vá direto ao ponto
  • Não desperdice o tempo do seu leitor com longas introduções ou adendos, ao invés disso vá direto ao ponto.
  • Escreva um rascunho e o deixe descansando
  • King recomenda que você escreva um rascunho e o deixe descansando por um tempo. A quantidade de tempo varia para cada pessoa, mas a ideia aqui é desvincular a sua cabeça do que foi escrito e esquecer o texto um tempo para que depois, quando você for ler denovo, você tenha uma visão parecida com a que o leitor terá quando ler o texto pela primeira vez. Assim você aumenta as chances de descobrir uma maior quantidade de falhas e corrigi-las.
  • Corte o seu texto
  • Tente remover palavras e sentenças desnecessárias no seu texto. Essa ideia vem de uma rejeição que King teve no início da carreira por ter um texto muito longo com muita “gordura”. Mas tome cuidado também para não remover coisas demais e causar o efeito inverso.
  • Não se preocupe muito com o que os outros podem pensar
  • Cada pessoa que ler o seu texto vai ter uma opinião diferente sobre o que você escreveu. Uns vão gostar, outros odiar, outros até confundir a ficção com a realidade. Saiba absorver as críticas construtivas e ignorar os comentários que não te ajudam em nada.
  • Leia muito: quanto mais você lê, mais informações você absorve tanto relativas ao mundo à sua volta quanto à maneiras de se escrever. Se você escreve, ler regularmente irá fazer você absorver aspectos de vários autores que farão a sua identidade como autor. Ler também expande os seus horizontes e aumenta o seu conhecimento sobre o mundo. LEIA MUITO!
  • Escreva muito: para escrever bem, você obviamente tem que escrever bastante. A prática leva sempre à textos melhores.

Depois que comecei esse blog, descobri que escrever era mais fácil do que eu imaginava e que a qualidade dos textos que eu produzia ia melhorando com o tempo. Mas o quê eu fiz para melhorar? Basicamente o que está escrito aí em cima.

Cada um tem a sua forma de escrever. Mas sempre podemos buscar melhorar e as dicas acima foram de grande ajuda pra mim e para a qualidade dos meus textos. Espero que elas ajudem a todos tanto quanto me ajudaram…

Fontes de pesquisa: Positivity / Lifehack / Copyblogger / Efetividade
http://www.produzindo.net/dicas-de-diversos-autores-para-se-escrever-bem/

TEXTO 02


A rotina diária de 13 grandes escritores e o que eles fazem para continuar escrevendo

Eu adoro escrever. Aliás, descobri há pouco tempo que é o que eu mais gosto de fazer. Porém, mesmo adorando todos os minutos no qual faço isso, tenho problemas em seguir rotinas que, não só possibilitem, mas me incentivem a fazê-lo todos os dias.
Levando-se em conta que só conheço quatro formas de melhorar a escrita – ler, escrever, ler mais e escrever mais – eu sabia que tinha que melhorar, principalmente na parte de escrever. Então, com isso em mente, recorri ao Google e encontrei o que procurava em um só lugar.
Acontece que, inspirada por uma carta escrita por Kurt Vonnegut à sua mulher, onde ele descrevia sua rotina diária, Maria Popova foi atrás de entrevistas e diários de escritores famosos a fim de conhecer mais sobre seus horários e hábitos. Ela colocou tudo o que conseguiu achar em seu site, o Brainpickings, e eu traduzi livremente os relatos abaixo, com uma pequena introdução e um comentário no final.

Ray Bradbury

Ray Bradbury é autor do livro O Zen e a Arte da Escrita, onde compartilha ensinamentos valiosos para quem aspira tal profissão. Ele disse, em entrevista para o The Paris Review:
"Minha paixão me leva à máquina de escrever todos os dias da minha vida, e ela tem feito isso desde que eu tinha 12 anos. Então, nunca tive que me preocupar com cronogramas. Alguma coisa nova está sempre explodindo em mim, e é isso que me programa, eu não faço nada. Ela diz: ‘Vá para a máquina de escrever agora mesmo e termine isso.’
Eu consigo trabalhar em qualquer lugar. Escrevi em quartos e salas de estar na adolescência com meus pais e meu irmão em uma pequena casa em Los Angeles. Eu trabalhava em minha máquina de escrever na sala, com o rádio, meu pai, minha mãe e meu irmão, todos falando ao mesmo tempo. Mais tarde, quando queria escrever Fahrenheit 451, eu encontrei na UCLA uma espécie de sala de escrever, em um porão, onde você colocava uma moeda de 10 centavos na máquina e comprava 30 minutos de tempo de escrita."
Interessante observar que, mesmo afirmando não ser atrapalhado pelos ruídos característicos de sua casa, Bradbury sentiu necessidade de procurar um local mais calmo e reservado para escrever aquela que viria a ser sua maior obra.

Joan Didion

"Eu preciso de uma hora sozinha antes do jantar, com uma bebida, para repassar tudo o que fiz naquele dia. Não posso fazer isso no final da tarde porque ainda estou muito envolvida com tudo. Além do mais, a bebida ajuda. Isso me remove das páginas. Eu passo essa hora removendo algumas coisas e adicionando outras. Então eu começo o próximo dia refazendo tudo o que fiz no anterior, seguindo as notas que tomei nesta hora. Quando estou realmente trabalhando, não gosto de sair nem ter ninguém para o jantar, senão eu perco a hora. E se eu não a tenho e começo o dia seguinte com somente algumas páginas ruins e nenhum lugar para ir, fico desanimada.
Outra coisa que preciso fazer, quando estou perto do final do livro, é dormir no mesmo quarto que ele. Esse é o motivo de eu ir pra casa em Sacramento para terminar coisas. De alguma forma, o livro não sai quando você está dormindo bem ao seu lado. Em Sacramento, ninguém se preocupa se eu apareço ou não, eu posso simplesmente acordar e começar a escrever."
Pra mim tem sido fundamental o ato de ler, reler e editar meus próprios textos. Acredito que seja uma medida que deva ser tomada por qualquer um que leve sua escrita a sério. Embora não seja tema abordado por todos os escritores aqui presentes, é interessante comparar com aqueles que o citam, o momento e as condições consideradas ideais para isso.

E. B. White




Falou sobre sua relação com o barulho na mesma entrevista em que disse uma das frases mais emblemáticas e inspiradoras para o ato de escrever:
"Eu nunca ouço música quando estou escrevendo. Eu não manteria a atenção necessária e não desfrutaria disso de forma nenhuma. Por outro lado, consigo trabalhar razoavelmente bem com distrações usuais.
Minha casa tem uma sala de estar que está no meio de tudo o que acontece: é passagem para a adega, para a cozinha, para o gabinete onde fica o telefone. Tem muito tráfego. Mas é uma sala viva, alegre, e eu frequentemente a uso para escrever, apesar do carnaval que acontece ao meu redor. Uma garota passando vassoura no tapete sob a mesa da minha máquina de escrever nunca me incomodou particularmente, nem tirou meu foco do trabalho, a não ser que a garota seja excepcionalmente bonita ou desajeitada.
Minha mulher, graças a Deus, nunca foi protetora comigo, como, me disseram, as mulheres de alguns escritores são. Em consequência, os membros da minha família não dão a mínima para o fato de eu ser um escritor – eles fazem todo o barulho e a bagunça que querem. Se eu me canso disso, tenho lugares onde possa ir. O escritor que espera por condições ideais para trabalhar vai morrer sem colocar uma palavra no papel."

Susan Sontag




Escreveu em seu diário em 1977:
"Começando amanhã — senão hoje:
Eu vou acordar toda manhã no mais tardar oito horas. (Posso quebrar essa regra uma vez por semana.)
Eu vou almoçar somente com Roger [Straus]. (Não, eu não vou almoçar fora. Posso quebrar essa regra uma vez a cada duas semanas.)
Eu vou escrever no caderno de anotações todos os dias. (Modelo: Lichtenberg’s Waste Books.)
Eu vou falar para as pessoas não ligarem pela manhã, ou não atenderei ao telefone [se ligarem].
Eu vou tentar restringir minhas leituras para as noites. (Eu leio muito – como uma fuga para não escrever.)
Eu vou responder cartas uma vez por semana. (Sexta? – Tenho que ir no hospital, de qualquer forma.)"
Então ela falou para o The Paris Review, duas décadas depois:
"Eu escrevo com uma caneta hidrográfica, ou, às vezes, um lápis, em blocos de anotações amarelos ou brancos, aquele fetiche de escritores americanos. Eu gosto da lentidão da escrita à mão. Então eu digito isso e depois rabisco tudo. E continuo redigitando, sempre fazendo correções, tanto à mão quanto diretamente na máquina de escrever, até que não veja mais como tornar aquilo melhor. Até cinco anos atrás, era assim.
Desde então há um computador em minha vida. Depois do segundo ou terceiro rascunho isto vai para o computador, então eu não redigito todo o manuscrito mais, mas continuo revisando à mão numa sucessão de rascunhos e cópias para o computador.
[…]
Eu escrevo em jorros. Escrevo quando tenho que escrever, quando a pressão aumenta e sinto confiança suficiente que algo amadureceu em minha cabeça e eu tenho que escrever isto. Quando algo está realmente a caminho, eu não quero fazer mais nada. Eu não saio de casa, na maioria das vezes me esqueço de comer, eu durmo muito pouco. É uma forma de trabalho bem indisciplinada e não me faz muito prolífica. Mas eu estou muito interessada em várias outras coisas."

Henry Miller




Em 1932, Henry Miller escreveu seus 11 mandamentos da escrita, numa seção intitulada Rotina Diária:
"MANHÃS:
Se estiver inseguro, digitar notas e alocar, como estímulo.
Se estiver bem, escreva.
TARDES:
Trabalhar a sessão à mão, seguindo o plano escrupulosamente. Sem intromissões, sem diversão. Escrever para terminar uma sessão por vez, definitivamente.
NOITES:
Ver amigos. Ler em cafés.
Explorar lugares desconhecidos - a pé, se estiver seco, de bicicleta, se estiver molhado.
Escreva, se estiver no clima, mas em menor volume.
Pinte se estiver sem ideias ou cansado.
Faça notas, faça gráficos, planos.
Nota: Conceder tempo suficiente durante o dia para uma ocasional visita a um museu ou um rascunho ou uma volta de bicicleta. Rascunhos em cafés e trens e ruas. Corte os filmes! Bibliotecas para referências uma vez por semana."

Simone de Beauvoir




Também para o The Paris ReviewSimone de Beauvoir disse:
"Eu sempre estou com pressa para iniciar, embora, em geral, não goste de começar o dia. Primeiro eu tomo chá e, então, por volta das dez da manhã, começo e trabalho até à uma da tarde. Então eu vou ver meus amigos e após isso, às cinco da tarde, volto ao trabalho e sigo até às nove. Eu não tenho dificuldades em recuperar o fio da meada à tarde. Quando você sair, eu vou ler o jornal ou talvez fazer compras. [Mas] Na maioria das vezes é um prazer trabalhar.
[...]
Se o trabalho está indo bem, eu passo de quinze a trinta minutos lendo o que eu escrevi no dia anterior, e faço algumas correções. Então eu continuo daí. A fim de recuperar o segmento eu leio tudo o que escrevi."

Ernest Hemingway




Hemingway é responsável por um dos relatos mais interessantes e, com certeza, o mais apaixonado pela literatura:
"Quando estou trabalhando em um livro ou uma história, eu escrevo toda manhã no mais próximo ao amanhecer possível. Não há ninguém para te perturbar e é fresco ou frio e você vai para seu trabalho e se aquece ao escrever. Você lê o que havia escrito e, como você sempre para quando sabe o que vai acontecer a seguir, você segue dali.
Você escreve até chegar num lugar onde ainda tenha sua essência e saiba o que vai acontecer depois, então você para e tenta viver até o próximo dia, quando volta a isso.
Você começa às seis da manhã, digamos, e pode continuar até o meio-dia ou seguir após isso. Quando você termina, está tão esgotado e ao mesmo tempo tão carregado, que é como se estivesse feito amor com alguém que você ama. Nada pode machucá-lo, nada pode acontecer, nada importa até o próximo dia quando você faz isso de novo. A espera até o próximo dia que é a parte difícil."
Hemingway chama atenção para duas características singulares: a primeira é escrever em pé, prática que descobri ser mais comum do que imaginava e a segunda e mais interessante, é o hábito de sempre encerrar o dia no meio de uma ação.
Pode parecer estranho, mas, para mim, faz total sentido. Como ele mesmo disse, a tentação de continuar escrevendo e atirar todas aquelas cenas engatilhadas em sua cabeça é grande. Mas, desta forma, a retomada no dia seguinte se torna muito mais fácil, visto que você já sabe exatamente para onde está indo.
Além do mais, considero o começo a parte mais difícil. Depois que começo a escrever, imagens costumam brotar em minha cabeça, facilitando a continuidade da história.

Don DeLillo




"Eu trabalho de manhã em uma máquina de escrever manual. Faço por volta de quatro horas e então vou correr. Isso ajuda a me livrar de um mundo e entrar em outro. Árvores, pássaros, garoa – é um bom tipo de interlúdio. Então eu trabalho de novo, no final da tarde, por duas ou três horas.
O esporte está presente na rotina de muitos escritores. É, indubitavelmente, uma excelente forma de clarear as ideias, aquela distância que se faz necessária às vezes, para que possamos enxergar as coisas melhor. Além de ser renovador.
De volta ao tempo do livro, que é transparente – você não sabe que está passando. Sem lanche, comida ou café. Sem cigarros – eu parei de fumar há muito tempo. O espaço é limpo, a casa é quieta. Um escritor toma medidas sérias para garantir sua solidão e então encontra infinitas maneiras de desperdiçá-la.
Olhando pela janela, olhando entradas aleatórias no dicionário. Para quebrar o feitiço eu olho para uma fotografia de Borges, um ótimo retrato enviado para mim pelo escritor irlandês Colm Tóin. O rosto de Borges contra um fundo escuro – Borges feroz, cego, sua narina escancarada, sua pele esticada, com a boca incrivelmente viva; sua boca parece pintada; ele é como um xamã pintado por visões, e todo o rosto tem uma espécie de arrebatamento férreo.
Eu li Borges, é claro, embora esteja longe de ter lido tudo, e não sei nada sobre a forma com que ele trabalhava – mas a fotografia nos mostra um escritor que não desperdiça tempo na janela ou em qualquer outro lugar. Então eu tento transformá-lo em meu guia que me leva da letargia e da deriva, para um mundo de magia, arte e adivinhação."
As divagações, enquanto escrevo, são um problema. Muitas vezes me pego “olhando pela janela”, longe do assunto que estou escrevendo. E nem sempre posso colocar a culpa na TV ou no barulho ao meu redor.

Haruki Murakami




"Quando estou em 'modo escrita' para um romance, eu acordo às 4:00 am e trabalho por cinco ou seis horas. À tarde, corro por 10km ou nado por 1500m (ou faço os dois). Então, leio um pouco e ouço musica. Eu vou para cama às 9:00 pm. Mantenho tal rotina todos os dias, sem variações. A repetição em si se torna a coisa importante; é uma forma de mesmerismo. Eu me auto mesmerizo para alcançar um estado mental mais profundo.
Mas suportar tal repetição por tanto tempo — seis meses a um ano — requere uma boa quantia de força mental e física. Nesse sentido, escrever uma longa novela é como um treino de sobrevivência. Força física é tão necessária quanto sensibilidade artística."

William Gibson




Declarou para o Paris Review, em 2011:
"Quando estou escrevendo um livro, levanto às sete. Checo meu e-mail e faço abluções da Internet, como fazemos nos dias de hoje, e tomo uma xícara de café. Três dias por semana eu faço pilates e volto entre dez e onze da manhã. Então eu sento e tento escrever. Se absolutamente nada estiver surgindo, me dou permissão para ir cortar a grama. Mas, geralmente, só me sentando e realmente tentando é o suficiente para começar algo.
Eu paro para o almoço, volto e escrevo mais. E em seguida, geralmente, um cochilo. Cochilos são essenciais para o meu processo. Não os sonhos, mas aquele estado adjacente ao dormir, a mente ao acordar.
[...]
À medida que avanço, o livro vai se tornando mais exigente. No começo, eu trabalho cinco dias na semana, sendo cada dia das dez às cinco, aproximadamente, com uma pausa para o almoço e o cochilo. No final estou trabalhando todos os dias, podendo chegar a doze horas por dia.
Perto do fim do livro, o estado de composição está mais complexo, um estado quimicamente alterado que irá embora se eu não continuar dando o que ele precisa. E o que ele precisa é, simplesmente, escrever o tempo todo. O tempo de inatividade que não seja dormir se torna problemático. Fico sempre contente de ver isso para trás."

Maya Angelou




Sobre seu dia para o The Paris Review, em 1990:
Eu escrevo pela manhã, vou pra casa por volta do meio-dia e tomo um banho, porque escrever, como você sabe, é trabalho duro, então você tem que fazer uma dupla purificação. Aí eu saio, faço compras e finjo ser normal. Eu me faço de sã – Bom dia! Tudo bem, obrigada. E você? – e vou embora.
Eu preparo meu jantar e, se tiver convidados, uso velas, toco música boa e todas essas coisas. Depois de me livrar de todos os pratos eu leio o que escrevi naquela manhã. Na maioria das vezes, se escrevi nove páginas eu vou conseguir salvar umas duas e meia ou três. Esta a parte mais cruel, sabia? Admitir que aquilo não está bom. Quando eu termino umas cinquenta páginas e as leio – cinquenta aceitáveis páginas – não é tão ruim.

Anaïs Nin




Foi simples e direta ao escrever no terceiro volume de seus diários, em 1941:
"Eu escrevo minhas histórias de manhã, e meu diário à noite."
E então, no quinto volume, em 1948, ela escreveu:
"Eu escrevo todos os dias... Faço meus melhores trabalhos pelas manhãs."

Kurt Vonnegut




E, por último, a rotina de Kurt Vonnegut, descrita com seu humor habitual, em uma carta, direcionada à sua mulher, em 1965:
Em uma vida sem rumo como a minha, sono, fome e trabalho organizam-se sozinhos para serem atendidos, sem me consultarem. E eu estou tão feliz que eles não me consultaram sobre os detalhes cansativos.
O que eles têm decidido é o seguinte: Eu acordo às 5:30, trabalho até às 8:00, tomo café da manhã em casa, trabalho até às 10:00, ando alguns quarteirões pela cidade, mando recados, vou até a mais próxima piscina municipal, da qual eu tenho toda para mim, nado por meia hora e retorno para casa às 11:45, leio as correspondências e almoço ao meio-dia.
À tarde eu faço trabalho escolar, seja dar aula ou prepará-la. Quando chego em casa da escola, por volta das 5:30, eu entorpeço meu vibrante intelecto com vários shots de whisky com água ($5.50 na loja State Liquor, a única loja de bebidas da cidade. Embora haja um monte de bares.), faço o jantar, leio, ouço jazz (muita música boa nas rádios daqui) e deslizo para a cama às dez. Eu faço flexões e abdominais o tempo todo, e sinto que estou ficando magro e musculoso, mas talvez não.
Na noite passada, o tempo e meu corpo decidiram me levar ao cinema. Eu vi The Umbrellas of Cherbourg, o que me fez muito mal. Para um homem de meia-idade sem rumo como eu, foi de partir o coração. Está tudo bem. Eu gosto de ter meu coração partido.
O relato do bigodão de nome estiloso é, em minha opinião, o mais legal deles. Isso se deve, provavelmente, ao fato de ser uma carta escrita pelo próprio, direcionada à sua mulher, e não uma entrevista.
Algumas coisas podem ser tiradas desses relatos. A principal delas é que não existe fórmula vencedora. São pessoas diferentes com hábitos e horários diferentes. Embora a maioria aqui acorde cedo e tente manter alguns hábitos saudáveis, o velho Bukowski se tornou um grande escritor e viveu até os 73 anos de idade seguindo na direção contrária.
Alguns preferem não detalhar muito o cronograma, deixando-se mais livres, enquanto Benjamin Franklin possuía uma planilha ridiculamente detalhada de todo o seu dia e Haruki Murakami faz as mesma coisas, todos os dias, religiosamente.



Outra coisa é que, ao contrário de todos eles, pouquíssimos dos entusiastas da escrita vivem do ofício, portanto, o tempo que sobra para ela é escasso. Porém, vendo hábitos tão diferentes e todos eficazes ao seu modo, fica muito mais fácil encontrarmos algo com que nos identifiquemos e, com uma adaptação aqui e ali, maximizarmos a produtividade no tempo que dedicamos a escrever.



https://papodehomem.com.br/a-rotina-diaria-de-13-grandes-escritores-e-o-que-eles-fazem-para-continuar-escrevendo/

TEXTO 03

    s


    12 dicas para escritores iniciantes por George R. R. Martin


    A época dessa entrevista em Novembro de 2013, George R.R. Martin esteve em Sydney no Opera House, para comentar mais uma vez sobre As Crônicas de Gelo e Fogo e aproveitou para dar algumas dicas para quem quer se aventurar pela escrita de fantasia, baseado em sua própria experiência. Mesclamos isso a algumas dicas tiradas da seção de perguntas frequentes do site oficial de Martin. Então abaixo seguem os doze mandamentos do Rei (olha a heresia) dos escritores de Fantasia da atualidade.

    George R. R. Martin no Sydney Opera House

    Comece aos poucos

    Dada a realidade do mercado de ficção cientifica e fantasia atual, eu sugiro também que qualquer aspirante a escritor comece com histórias curtas, contos. Hoje me dia eu vejo muitos escritores novos tentando começar de cara com uma novela ou uma trilogia, ou até mesmo com uma série de nove livros.
    É como começar a escalar de cara pelo Monte Everest. Histórias curtas vão ajuda-lo a aprender seu ofício. Elas são o lugar certo para cometer os erros que todo escritor iniciante vai cometer. E são ainda o melhor caminho para um escritor iniciante aparecer, já que as revistas e coletâneas de contos estão sempre procurando por contos de fantasia e ficção cientifica. Uma vez que você tiver vendido esses contos por uns cinco anos, você terá construído seu nome e editores irão começar a lhe perguntar sobre seu primeiro romance.

    Ler e Escrever, sempre

    Eu acho que, a coisa mais importante para qualquer aspirante a escritor, é ler. E não somente o tipo de coisa que você está tentando escrever, pode ser fantasia, ficção cientifica, quadrinhos, qualquer tipo de literatura. Você precisa ler de tudo. Leia a história, ficção histórica, biografias, leia novelas de mistério, fantasia, ficção cientifica, horror, os sucessos, literatura clássica, erótica, aventura, sátira. Cada escritor vai ter algo para ensinar a você, seja bom ou ruim. (E sim, você pode aprender com livros ruins também – o que não fazer).
    E escreverEscreva todos os dias, mesmo que seja uma página ou duas. Quanto mais você escrever, melhor nisso você será. Mas não escreva no meu universo, no de Tolkein, no universo Marvel, de Star Trek ou em qualquer outro que você pegue emprestado. Cada escritor precisa aprender a criar seus próprios personagens, mundos e configurações. Usar o mundo de outro é o método preguiçoso. Se você não exercitar esses “músculos literários”, você nunca vai desenvolvê-los.

    Não há problema em pegar “emprestado” da História

    Embora minha história seja de fantasia, é fortemente baseada em história medieval real. A Guerra das Rosas, que foi sobre os Yorks e os Lancaster ao invés dos Stark e dos Lannister, foi uma das maiores influências. Mas eu gosto de misturar e combinar e mover coisas ao redor. Como diz um famoso ditado, roubar de uma só fonte é plágio, mas roubar de muitas fontes é pesquisa!

    Não limite a sua imaginação

    Eu sabia desde o começo que eu queria uma história grande e complexa. Antes d’As Crônicas de Gelo e Fogo eu trabalhei na televisão por dez anos e sempre me deparava com um script de uma cena comum que eu escrevia, mas me diziam “George , isso é ótimo , mas é muito grande e caro, você precisa cortar algumas coisas. Você tem 126 personagens e só temos orçamento para seis”.
    Quando eu voltei para a literatura, de repente não havia limites: Eu poderia escrever algo enorme, com todos os personagens que eu queria, com batalhas, dragões e imensos detalhes. Claro, eu pensei que isso seria infilmável e que eu nunca teria que me preocupar com Hollywood novamente. Mas isso é problema de David Benioff e Dan Weiss agora [produtores de TV de Game of Thrones].

    Montagem com parte do elenco principal da primeira temporada

    Criando personagens “cinza”

    Personagens cinza [nem bons, nem maus] sempre me interessaram mais e eu acho que o mundo está cheio deles. Eu li um monte de História, e eu não achei nenhum personagem puramente heroico ou puramente mau. Você pode escolher os exemplos mais extremos – Hitler era famoso por amar cães. Stalin, Mao, Genghis Khan, os grandes assassinos em massa da história eram todos heroicos sob seus próprios olhos. Por outro lado você pode ler histórias sobre todos os santos da história católica e Madre Teresa ou Gandhi e você pode encontrar coisas e ações sobre eles que eram erradas ou questionáveis ​, mas que eles fizeram.
    Somos todos cinza e eu acho que todos nós temos a capacidade de fazer coisas heroicas e coisas muito egoístas. Eu acho que compreender isso é a chave para você criar personagens que realmente têm alguma profundidade neles. Mesmo quando eu estou escrevendo Theon Greyjoy, que é alguém que muitas pessoas odeiam, eu tenho que tentar ver o mundo através de seus olhos e dar sentido ao que ele faz.

    Violência deve ter consequências – então não poupe ninguém!

    Se você pretende escrever sobre guerra no estilo medieval, você precisa mostrar isso – todas essas espadas não são apenas para enfeite. Você deve apresentá-lo honestamente em toda a sua feiura e horror. Batalhas medievais eram excepcionalmente sangrentas, as pessoas basicamente acertavam umas as outras com pedaços grandes, muito afiadas de metal que arrancavam membros e deixavam lesões horríveis e devastadores. Na Batalha de Hastings há relatos contemporâneos de um verdadeiro banho de sangue (estima-se que somando os dois lados haviam 17000 soldados e fora os feridos teriam morrido cerca de 6.000, tudo isso em uma manhã). Eu gosto de mostrar as consequências críveis da guerra, como o homem aleijado, que viveu depois.
    Curiosamente, na série, eles mataram uma certo número de personagens menores que ainda estão vivos nos livros, como as duas servas de Daenerys. Quando perguntei [aos produtores] sobre isso, eles me explicaram que ao contrário dos meus personagens nos livros, os atores esperam ser pagos em dinheiro! Portanto, a fim de introduzir um novo personagem no início de cada temporada, eles têm que matar alguns dos antigos personagens para ter folga [no orçamento].

    Faça Pontos de Vista críveis

    Em última análise, todos nós estamos sozinhos no universo – a única pessoa que cada um de nós realmente conhece profundamente, somos nós mesmos. Obviamente, eu nunca fui um anão ou uma princesa, então quando eu estou escrevendo esses personagens eu tenho que tentar e conseguir entrar em sua pele e ver como seria o mundo de sua posição. Nem sempre é fácil.
    Uma parte disso pode ser conseguido falando com pessoas reais. Eu me correspondia com um fã que era paraplégico quando eu estava escrevendo o primeiro e o segundo livros. Ele me deu um monte de informações valiosas sobre como escrever sobre Bran e como seria estar nessa situação.
    Mas, ultimamente, eu acho que a humanidade que todos os meus personagens compartilham é mais importante do que se são homens ou mulheres, princesas ou camponeses, altos ou pequenos. Enquanto estas coisas certamente fazem diferença, todos os tipos de seres humanos em todas as culturas ao longo da história têm desejado sucesso, amor, uma certa dose de prosperidade, conseguir comer e não ser morto. Estas são coisas muito básicas que motivam todas as pessoas e tento manter isso em mente ao escrever qualquer personagem.

    Escolha os seus personagens com ponto-de-vista de forma a ampliar a narrativa

    Minha história é essencialmente sobre um mundo em guerra. Ela começa muito pequena, com todo mundo no castelo de Winterfell, exceto Daenerys. É um foco muito apertado, e em seguida, conforme os personagens se separaram, cada personagem encontra mais pessoas e POVs adicionais entram em foco. É como se você estivesse tentando fazer um romance da 2ª Guerra Mundial: você vai pegar apenas um soldado comum? Bem, isso só cobriria o cenário europeu , não o Pacífico. Você faz de Hitler um personagem com ponto de vista para mostrar o outro lado? E o lado japonês ou da Itália? Roosevelt, Mussolini, Eisenhower – todos esses personagens têm um ponto de vista único que representa algo enorme na 2ª Guerra Mundial.
    Então, você pode ir a partir de uma estrutura de ponto de vista onisciente onde você está contando isso do ponto de vista de Deus, que é uma técnica literária bastante desatualizada, ou você tem um mosaico de pessoas que estão vendo uma pequena parte da história cada um, e através deles você pode obter toda a imagem. Esse é o caminho que eu escolhi usar.
    Apresentar a dor é algo difícil de fazer. Anos atrás eu escrevia para um programa de TV chamado A Bela e a Fera, estrelado por Ron Perlman e Linda Hamilton. Linda deixou o show após a segunda temporada para seguir uma carreira no cinema, por isso, decidimos retirar o personagem da história ao invés de substituir a atriz, porque era mais dramático. Tivemos a personagem morta e isso levou a uma grande briga com a rede [o canal].
    Queríamos passar um episódio inteiro em que a personagem estaria enterrada e todo mundo passaria 60 minutos chorando e lamentando e compartilhando suas lembranças sobre ela. Mas a rede não queria que mostrássemos nada disso. Eles disseram “o personagem está morto, você precisa seguir em frente e apresentar uma nova Bela. Nunca mais vamos mencionar o nome de seu personagem novamente”. Toda a sala de escritores ficou horrorizada com isso. Era para ser uma história de amor pelas eras, ele não ia simplesmente esquecê-la e seguir para a próxima Bela.
    Nós meio que ganhamos a batalha, mas perdemos a guerra. Apresentamos o episódio [como queríamos] e foi muito poderoso. Acho que nossos fãs mais incondicionais assistiram, derramaram muitas lágrimas e depois nunca mais assistiram a série de novo! A mágoa, o sofrimento, não necessariamente se traduz em valor de entretenimento. Dito isto, faz mais poderosa a narrativa. Apresentar não apenas a morte, mas a dor é importante. Em algum momento, todos nós experimentamos a perda de nossos pais, ou irmão ou amigos próximos e é uma emoção muito poderosa.

    Evite clichês de fantasia

    Eu amo fantasia e tenho lido durante toda a minha vida, mas eu também sou muito consciente de suas falhas. Uma das coisas que me deixa louco é a exteriorização do mal, onde o mal vem do “Senhor das Trevas” que está sentado em seu palácio escuro com seus asseclas sombrios onde todos se vestem de preto e são muito feios. Eu deliberadamente brinquei com isso. Veja a Patrulha da Noite, eles mesmos estão cheios de ladrões, saqueadores e estupradores, e são pessoas heroicas – mas todos eles se vestem de preto. E depois há os Lannister que são bonitos e justos, mas não são as pessoas mais simpáticas da história.
    Na fantasia simplista, as guerras são sempre plenamente justificadas – você tem as forças da luz que lutam contra uma horda escura que querem espalhar o mal sobre a terra. Mas a história real é mais complexa. Há uma grande cena em Henrique V de William Shakespeare, em que Henrique vai andando entre os seus homens disfarçado na véspera da batalha de Agincourt, e alguns deles estão questionando se a causa do rei é justa ou não, e lamentando todas as pessoas que vão morrer para apoiar a sua reivindicação. Essa é uma pergunta válida. Então você tem a Guerra dos Cem Anos, que era basicamente uma briga entre famílias que mandou gerações inteiras para o matadouro. Então, eu tento mostrar isso no que escrevo.

    Gerenciar muitos personagens requer habilidade – e sorte

    Eu às vezes me pergunto se será possível amarrar todos os fios soltos na minha saga. Tenho pesadelos quando eu penso sobre tudo se juntando nos últimos dois livros. Acho que posso fazer isso, mas vamos ver quando eu chegar ao fim. Às vezes, esses personagens malditos tem uma mente própria e se recusam a fazer o que eu quero que eles façam. Eu acho que nós vamos saber se tudo vai funcionar em uma década mais ao menos!

    Lembre-se: O inverno está chegando

    Valar Morghulis – Todos os homens devem morrer. Eu acho que a consciência de nossa própria mortalidade é algo que diz respeito mais a arte e a literatura. Mas eu não acho que isso se traduz, necessariamente, em uma visão de mundo pessimista. Assim como no mundo real, meus personagens estão aqui apenas por um curto espaço de tempo. O importante é o amor, a paixão, a empatia, o riso, até mesmo rir na cara da morte, se for possível. Há trevas no mundo, mas não podemos dar lugar ao desespero. Um dos melhores temas de O Senhor dos Anéis é que o desespero é o crime supremo. O inverno está chegando, mas você pode acender as tochas e beber vinho e se reunir ao redor do fogo e continuar a lutar por um bom combate.
    Mas seja lá o que você fizer, no entanto… Boa sorte. Você vai precisar.
    E então? Está pronto para começar sua própria saga? Interessante que “leve todo o tempo do mundo para escrever seu livro” e “não se desespere se seus fãs não te deixarem em paz” não foram citados como conselhos, mas a gente releva.


    Leia mais: http://www.gameofthronesbr.com/2014/02/12-dicas-para-escritores-iniciantes-por-george-r-r-martin.html#ixzz4bXXLldRv

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